Na Rua do Pinheiro

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Irmãos Grimm - 200 anos


Faz hoje 200 anos que saiu a primeira edição de "Contos de Grimm" . Façam uma busca no Google, que vale bem a pena e irão divertir-se muito.

Eis a edição que hoje festeja 200 anos!



Google assinala 200º aniversário da edição de «Contos de Grimm» com doodle interactivo | Multimedia : www | Diário Digital








Um grande xi-coração


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

As Histórias da Avozinha

Ontem, dia 13 fui fazer de Avozinha  à biblioteca de Benavente e contei a história do "Caldo de Pedra" a uma turma do 1º ciclo. Foi muito compensador e as crianças aprenderam palavras  que deixaram de ser usadas no nosso vocabulário.

A Avozinha acabou por adormecer, à espera dos "netinhos", enquanto fazia tricot.


E começou a história.

Aqui, a Avozinha utilizou o xaile que tinha aos ombros para explicar aos "netinhos" o que era um alforge e para que servia.


      

Acabou

A historiazinha

Que contou

A Avozinha



A Avozinha vai voltar à biblioteca todas as semanas para contar as suas histórias.


Um grande xi-coração

domingo, 28 de outubro de 2012

GALARÓ


Tinha a crista mais vermelha
Do que o coral que há no mar
Tinha as cores mais bonitas
Que um galo pode mostrar



De manhã, ao acordar                                                           
Enchia o peito e cantava
Era tão forte o seu canto
Que até o sol acordava

As galinhas da capoeira
Andavam apaixonadas
Pelo galo Galaró
De penas sempre agitadas.

Viviam entristecidas
Por não poderem dormir
Mas a paixão que sentiam
Impedi-as de agir.

Pelo romper da manhã
Era de mais o berreiro
Ficavam tão ensonadas
Que caíam do poleiro.

Que fazer? -Diziam elas-
Para que não cante mais,
Deixar de fazer barulho
A horas tão matinais?

Certa manhã, como sempre,
Galaró, já bem desperto
Vai para soltar o canto
Mas fica de bico aberto.

No poleiro à sua frente
Estava uma linda galinha                                                           
De penas lisas, brilhantes
Parecia uma rainha.

O seu bico avermelhado                                                    
Da cor de uma framboesa
 Fez Galaró perder a voz
Perante aquela beleza.

E quando o sol brilhou mais
Mostrando o seu esplendor
Galaró solta um suspiro
E declara o seu amor.

A partir daquele dia
Galaró apaixonado
Só olhava para a galinha
Que o tinha enfeitiçado

Para tudo acabar em bem
Não mais veio a cantar
Nascerem dez pintainhos
Não os podia acordar

 Agora havia sossego
As galinhas agradeciam
Não andavam ensonadas
Pois toda a manhã, dormiam.

Eugénia Edviges

Um grande xi-coração

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Que Sabe a Lua




Sabe a prosa, sabe a rima
Sabe a amor, sabe a carinho
Sabe a luar, sabe a céu                                             EE
Sabe a abraço e  a beijinho.

Sabe a girafa, sabe a leão,
Sabe a zebra e a peixinho
Sabe à nossa imaginação                                          SF
Ao que aparecerá naquele tapetinho.

Sabe a tristeza e a dor
Sabe a mágoa, sabe a esperança
E sabe a sonho...que o Poeta                                   EE
Nunca pára nem descansa!

Um sabor interessante
De uma lua a alcançar
Que todos olham...reparam                                      SF
Mas a que não podem chegar.

Sabe a chuva, sabe a sol
E às cores de uma paleta
Sabe a tudo o que existe                                        EE
No coração do Poeta!

Sabe a chupa, sabe a gelado
Sabe a bolo de esperança
Sabe tudo a que existe                                          SF
No olhar de uma criança.

               01.03.2011

               AUTORAS: Eugénia Edviges
                                   Sandra Ferreira (Biblioteca Municipal de Benavente)

um grande xi-coração

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Peixe e o Gato - António Torrado

Um texto de António Torrado


Era uma vez um peixe.
Era uma vez um gato,
um gato gaiato com sonhos e cócegas
de gato macaco.
- Vem daí, ó peixe, brincar-me no prato!
Ó peixe de prata, de prata barata,
vem jogar comigo ao gato e ao rato!

O peixe dançava nos olhos do gato.
Por dentro do vidro, voava em recato...
"Há perigo? Que perigo?
Estou vivo e bem vivo
e bem protegido."
Bolinhas subiam em ondas de ornato...
E o gato, um safado, malhado do mato, dizia:
- Troquemos, peixinho, e já, sem demora,
eu vou para a redoma,
tu vens cá para fora.
É que ando cansado do ar que respiro,
suspiro por água. Nadando, sou foca,
sou pato a vapor, sou gato a motor...
Salta daí! Vamos! Troca!

O peixe descia, fugia, fugia...
Não ia em batota nem troca-baldroca.
- Ah, sim?! - lhe dizia o gato do mato.
- Tens boca e não falas?                                                        
Mas, diz, finalmente não vais no contrato?

O peixe de prata, de prata lavrada
nadava, nadava...

Então, mais sensato o gato-pingado
gritou para o buraco:
- Quebrou-se o contrato. Não brinco contigo.
Fica do teu lado que eu fico onde fico
e desde já te digo,
meu carapau calado,
que hás-de afogado
morrer, para castigo.

Lá foi o gato amuado
pregar para outro postigo,
enquanto o peixe de prata
nadava de largo em largo
no lago feito baía.
E cada escama lhe ria...

Um grande xi- coração

sábado, 20 de outubro de 2012

LER




Ler para aprender,
Ler para brincar,
Ler para sonhar,
Ler para ter
Amigos imaginários
E participar numa grande aventura.
Ler é ternura.
Ler para conhecer
Outros lugares;
Conhecer princesas, monstros
Castelos, palácios...
Ler é alegria,
Ler é magia...!
Ler para ir à lua e voltar
Ler para ir ao centro da terra
E ao fundo do mar!


Eugénia Edviges

domingo, 9 de setembro de 2012

Apresenta-se o Livro

       
Este texto é de António Torrado e está incluído no livro "O Manequim e o Rouxinol", das edições Asa

       Como se faz para conhecer um livro? Não é difícil.
    Quando, numa biblioteca, numa livraria, em casa de um amigo,o livro (este livro, outro livro...) nos chama a atenção, pegamos nele, abrimo-lo devagar e, com ele poisado sobre a palma da mão esquerda, folheamo-lo muito naturalmente com a mão direita. Parece que é assim que se faz, não é?
      Os dedos, as costas da mão, que lhe alisam as páginas e, num voo leve, os olhos, que correm pelo formigueiro das linhas e poisam numa palavra aqui, numa frase além, e seguem adiante - os dedos, as costas da mão e os olhos, neste primeiro relance, estudam o livro por dentro. 
       Fazem-se as apresentações.
- Eu sou o livro - diz o livro que é de poucas falas, porque gosta mais de dizer as coisas por escrito.
- E eu sou o leitor, ou melhor talvez seja o leitor - dizemos nós.
    Folhear um livro é espreitar para dentro de uma caixinha sem chave, uma caixinha ao alcance das mãos e dos olhos, . Não há segredos.
- Que tens tu guardado para me dar? - perguntamos nós ao livro.
    Aí o livro conta, não pára de contar o que dentro dele tem guardado para nós. Se, entretanto, nos sentamos numa cadeira, de preferência de braços, por ser mais cómoda, e poisamos o nosso amigo livro sobre os joelhos, esta conversa, que começou por ser hesitante e prudente, vai, quase de certeza, demorar que tempos, o tempo de lermos o livro do princípio ao fim de fio a pavio, como também se costuma dizer.
       "De fio a pavio" é uma expressão singular. Lembra-nos a vela que, acesa, muito trémula, resiste ao escuro à sua volta. A vela acaba por extinguir-se, apagar-se, quando não há mais pavio, mas o livro, esse não! terminado, fechado, o livro que nos deu prazer, fica-nos na memória,  resiste ao esquecimento, ilumina ainda.
- Valho muito mais do que peso - diz o livro, sem ser por vaidade. - Tenho tanta coisa, tanta  surpresa, meus amigos, que só lendo-me se acredita.
vamos então descobrir por nós o que ele tem para nos dar. Vamos ler!

Um grande xi - coração!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Boletins Culturais da Fundação Gulbenkian

Estes boletins culturais eram editados pela Fundação Calouste Gulbenkian e distribuídos pelas bibliotecas do país. Com  temas muito interessantes e bem documentados eram ofertados aos leitores. Tenho vários e entre eles estão estes cinco sobre literatura infantil. 





"Tesouros de Teatro na Literatura Portuguesa Para Crianças" - Peças de Teatro para a infância escritas por diversos autores. 
Era Uma Vez...Um Dragão, de António Manuel Couto Viana;
O Ás dos Caçadores, de Fernanda de Castro;
O Que é que Aconteceu na Terra dos Procópios, de Maria Alberta Meneres;
O Segredo da Abelha, de Ricardo Alberty;
A Menina Tartaruga, de Lília da Fonseca... e muitas outras!


"Tesouros Universais da Literatura em Prosa para Crianças" - São algumas páginas  das histórias mais belas que se tem escrito com notas de apresentação de cada autor. 
O Pequeno Tambor, de Edmundo D`Amicis;
Histórias da Heidi, de Joana Spyri;
A Raposa Salta -Pocinhas, o Cavalinho Bailarino e o Lobo Brutamontes, de Aquilino Ribeiro;
O Principezinho de Saint-Exupéry
O Chapelinho Encarnado - Jacob e Guilherme Grimm...e muitas outras!

"Memórias da Infância" - Neste, foi lançado o desafio a vinte e três autores para escreverem um conto para crianças baseado nas suas memórias de infância.
O Suposto Pai Natal, de António Ramos Rosa;
Harmonia, de Lídia Jorge;
O Coelho e os Gigantes, de Mário de Carvalho;
Memória da Ilha, de Maria Teresa Horta;
Natal Azul, de Urbano Tavares Rodrigues...e muitos outros!

"Histórias Nunca Lidas..." - Este boletim é caracterizado por constituir contos e poemas de vários autores que, na altura (1971), ainda não tinham sido publicados.
Uma História do Tempo que Fez, de Alexandre Honrado;
Bisavó Eglantina, de Alice Vieira;
Branquinha, de António Mota;
Mariana e a Nuvem, de José Jorge Letria;
A Couve e a Borboleta, de Maria Keil...e muitos outros! 

"Conto e Reconto As Fábulas" - Fábulas contadas e recontadas através dos tempos em prosa e poesia, uns compilados por António Torrado e outros de vários autores. Vários animais aparecem com manias e qualidades dos humanos e até um urso que dá conselhos.
O Rei dos Ratos;
O Corvo Sábio,
O Urso dá Conselhos;
A maior de todas as Rãs...e muitas outras!


Em qualquer biblioteca poderão solicitar estas preciosidades. Além do mais são oferta. 
É de aproveitar. E têm todos bonitos ilustrações!


Um grande xi-coração





quarta-feira, 29 de agosto de 2012

No Jardim Havia Um Pato


Um texto de Natércia Rocha- escritora e dinamizadora de livros para jovens. Morreu em 2004


Era uma vez um jardim com lagos, patos e gatos.


Aqui temos nós um gato

Um valente gato branco.

Aqui temos nós um pato
um bonito pato preto

Agora começa a história.


O gato comia ratos e tinha medo dos patos.

O pato batia as asas e tinha medo dos gatos.


Os patos estavam no lago.


os gatos estavam ao sol.

Bem escondidos estava o rato.

À espreita do rato só podia estar o gato.

E o pato?

O pato queria nadar.


Mas tinha medo do gato.


E o rato?


O rato queria fugir.                                     


Mas via o gato a espreitar.


Chega então um pardalito


Salta para aqui, para ali.


Não vê o gato, não vê.


E o gato?


O gato pensa: "Tenho pardal para o almoço"


Pensa o gato: "Para o jantar fica o rato"


O pato que tudo viu bate as asas, faz quá quá.


Foge o pardal.


Foge o rato.


Fica o gato sem jantar.


Zanga-se o gato com o pato.


E o pato?

O pato fica a pensar:


"Como é bom poder nadar"



Um grande xi-coração

terça-feira, 17 de julho de 2012

As Letras Que Eles Cantam (Avô Cantigas) - Atchim Santinho






Atchim Santinho Avô Cantigas


apanhou chuvinha
está todo molhado
pobre fantasminha ficou constipado

deicou o lençol
ao sol a secar
como tinha febre
ele foi-se deitar

cria tanto ir brincar
e não para de espilraaaaar

(refrão)
ah ah ah ah tchin santinho (3 vezes)
ai ai o espilro não tem fim

ai sim?

(refrão)

estava muito frio
não se agasalhou
teve um arrepio
e então espilrou

foi logo vestir
um bom cobertor
para logo despir
ao sentir calor

apanhou corrente de ar
e não para de espilraaaaaaaaar

(refrão)

ai que grande chatice
estou tão infeliz
ando com ranhoca
sempre no nariz

então tens de te assoar
pois não paras de espilraaaaaaaaar

(refrão)

eu bem avisei
e agora sou eu
já me constipei
mas que azar o meu

não tive cuidado
apanhei chuvinha
estou encharcado
como um fantasminha

eu preciso de cantar
mas não paro de espilraaaaaaar

atchim

(refrão) (2 vezes)

ah ah ah tchim 



Um grande xi-coração

sábado, 9 de junho de 2012

A Viagem Maravilhosa




            Naquela noite Laura deitara-se pensativa. Achava que algo se apoderava dela. Estava inquieta, sem razão.
            Adormeceu num instante.
           Pela madrugada sentiu-se leve como uma pena. Nos lábios desenhou-se-lhe um sorriso de felicidade. Pela janela aberta entrou uma nuvem que se desvaneceu ao aproximar-se de si, transformando-se no anjo mais belo que se possa imaginar. As suas asas eram finas e macias, o cabelo doirado da cor do sol, de pele aveludada e o seu sorriso não tinha algo a que se comparasse.
            Aproximou-se de Laura e disse-lhe num sussurro acariciador:
- O teu desejo de há anos vai ser concretizado!
           Como por encanto, Laura sentiu-se leve como o vento e voava sobre planícies, montes, rios e mares! Tudo olhava extasiada, feliz! Achava-se capaz de mover a Terra, arrastar montanhas e nadar no fundo do oceano. Sentia-se rainha, Rainha do Mundo, do Mundo que estava a seus pés!
            Como por encanto pousou no solo e à sua volta agrupavam-se os mais variados e ressonantes ruídos: aqui, o chilreio de uma ave exótica que a maravilhava com o seu cantar; ali, o estrondo de possante fera, que procurava, talvez, carne para saciar a fome; além o rugido bravio, mas sempre de beleza ímpar, do mar, que batia contra as rochas escarpadas da alta falésia. Laura ergueu a cabeça para o alto e, em contraste com o azul do céu, o verde profundo das várias espécies de árvores, cujos ramos balouçavam ao sabor da aragem fresca e húmida. Caminhou devagar sobre a relva macia onde pululavam os mais variados insectos e pequenos vermes diligentes. Extasiava-se e, os seus olhos, inquietos, perscrutavam tudo. Estava só no Mundo – ela e a Natureza.
            Sentou-se numa pedra junto a uma palmeira e aí se encontrava em completo abandono, quando ao seu lado surgiu o mais temível mas também o mais belo dos animais da selva – o leão – que a olhava insistentemente. Do focinho pendia-lhe fortíssima juba doirada. Caminhou para Laura que estendeu a mão e, sem medo, acariciou o animal. O leão deitou-se ao seu lado e não mais a largou durante a sua travessia naquele paraíso.
            O sol começara a aquecer. Junto à palmeira onde se encontrava Laura descobriu uma jiboia de cores refulgentes que, enrolada, não dava sinal de vida. Tocou-lhe levemente e, ante aquela carícia, ergueu a cabeça mostrando a sua pérfida língua. Subiu a pedra onde Laura se encontrava e, dando uma volta ao seu pescoço, foi enroscar-se ao seu lado.
            Em frente estendia-se um pântano coalhado de vida animal e vegetal. Os nenúfares abrigavam rãs e sapos pesadões cujos coaxares retiniam pela superfície; flores de beleza ímpar tinham nascido naquele lamaçal medonho e as cobras soltavam os seus silvos agudos e desconcertantes.

            Ao longe um enorme vulcão estava prestes a vomitar lava incandescente. A terra tremeu, o céu escureceu e aquela lavareda surgiu ameaçadora. Pela primeira vez Laura contemplava o maravilhoso espectáculo que a Natureza lhe oferecia. A lava roçou a falésia indo desaguar ao mar. Grandiosa batalha se travava entre os animais na luta pela sobrevivência: o choro das hienas, a corrida de mastodontes, os esguichos dos répteis, a vozearia dos pássaros e o barulho ensurdecedor do vulcão. Pouco tempo depois tudo abrandou. Só ouvia de vez em quando os macacos saltarem de ramo em ramo com os seus modos e vozes característicos.       
          Escureceu. A noite chegou e com ela as belezas nocturnas. A lua prateada espreitava lá do alto. As pradarias, os bosques e a praia mostraram toda a sua beleza cintilante. Os pumas, de olhos esbugalhados e brilhantes, sentaram-se ao seu lado e do leão. Sentia-se protegida e embalada pelas ondas do mar que lhe acariciavam os pés.
            Um ruído enorme fê-la estremecer. Olhou o lençol prateado do mar e, ante o seu olhar absorto emergiu da água uma fera sobrenatural. De cabeça pequena em comparação com a grandeza do corpo e a boca crivada de dentes aguçados. A cauda estendia-se a perder de vista e o dorso era alto como uma montanha. Estava em frente de um dinossauro. O monstro olhou-a e Laura compreendeu que ele não lhe faria mal. Subiu pela cauda do animal, que reentrou no mar levando Laura no seu dorso.  Em pouco tempo distinguia apenas as sombras do mundo que deixara para trás. Nos seus cabelos desalinhados espalhavam-se pétalas de anémonas da Era Cretácea. O mar envolvia-a. Olhava em frente sobre a cabeça daquele monstro que a guiava sobre as ondas do mar.
               Laura acordou ofegante.
- Mas…que se passa? Qual o ente maligno que me deixou nesta cama, entre lençóis de linho, num quarto pintado de verde!?
            Como é cruel a desilusão…! Tudo não passara de um sonho…Será que foi um sonho? Laura sorriu.
            Preferia pensar que tudo acontecera realmente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Ajuda da Fada Verde da Primavera



               Há muito tempo que Inês desejava ter uma bicicleta. Todos os colegas da escola já tinham uma. O Paulo, o mais fanfarrão deles todos passava, todo vaidoso, frente a ela em cima de uma linda bicicleta preta e branca. Quando é que os pais pensavam em lhe dar uma? Inês já tinha sete anos! Bem…Quase oito.
               Foi grande a sua alegria quando no dia do seu aniversário o pai e a mãe lhe deram de presente uma linda bicicleta. Era branca e vermelha, com um cesto de metal encaixado no guiador.
Mas…tinha rodinhas…! Rodinhas! Como é que ela poderia enfrentar o Paulo com a sua bicicleta vermelha…sem rodinhas? Difícil questão.
               A mãe dissera-lhe:
- Inês, terás primeiro de aprender a andar com as rodinhas.  
               Não. Ela nunca iria para a rua com as rodinhas na bicicleta. Que vergonha! Com certeza que todos os amigos, incluindo o Paulo, rir-se-iam dela.
               No dia seguinte Inês andou de bicicleta no quintal da sua casa. Teria de aprender depressa. Era urgente.
               O tempo passava e Inês não se sentia ainda segura para tirar as rodinhas.
- Nunca serei capaz! – Pensava ela, entristecida. – Não tenho coragem de tirar as rodinhas…
               Sentou-se, desolada, junto ao jardim dos malmequeres brancos que, naquela altura do ano, estavam floridos. Pensativa, encostou-se ao vaso de sardinheiras e fechou os olhos.
- Para tudo é preciso coragem…
               De quem seria aquela voz que ouvia? Era uma voz tão fina, tão melodiosa.
- Quem está aí? – Perguntou Inês admirada.
- Sou eu.
               E no meio das flores surgiu uma fada de longos cabelos loiros e com um vestido verde,  salpicado de malmequeres.
- Quem és tu?
- Sou a Fada Verde da Primavera. Apercebi-me do teu problema e quis vir dar-te uma ajuda.
- Já sei! Vais usar em mim a tua varinha de condão para eu não cair da bicicleta quando tirar as rodinhas.
- Não. - Respondeu a Fada Verde da Primavera – Não irei usar a varinha de condão. Terás de ser tu a decidir o que fazer. Pretendes esconder-te e utilizar a bicicleta apenas no teu quintal? Ou será que preferes mostrá-la a todos os teus amigos e divertires-te com eles, fazendo corridas no jardim?
- Prefiro…estar com eles. Mas não serei capaz sem a ajuda das rodinhas…
- Já tentaste?
- Não.
- Então, enquanto não experimentares não vais saber se consegues ou não.
- Decerto que vou cair.
- Passarás por várias contrariedades até chegares ao que pretendes, como por exemplo, esfoladelas nos joelhos e nos cotovelos. O que conta é a tua força de vontade. Adeus Inês. Decide bem.
               A Fada Verde da Primavera desapareceu envolta nos malmequeres do jardim. Inês abriu os olhos.
- Adormeci e sonhei… - murmurou.
               Mas ficou a pensar no sonho que tivera. Sim, na verdade, era preciso ter força de vontade e tentar. Porque não?
Depois de o pai ter tirado as rodas Inês, receosa, tentou equilibrar-se em cima da bicicleta. As pernas tremiam-lhe enquanto apertava o guiador com toda a força. Muito a custo endireitou-se e conseguiu dar uma volta aos pedais.
- Ai…Ai…Ai…Mã…e!
               Catrapuz. Foi aterrar direitinha sobre o estendal. A bicicleta, com a roda de trás a girar e Inês enrolada no lençol branco, bordado, da avó.
- Não sou capaz.
               Mas as palavras da Fada Verde da Primavera vieram-lhe à mente: “O que conta é a tua força de vontade”
               Mais uma vez tentou a acrobacia. Parecia-lhe, agora, estar mais segura sobre o selim. Um, dois, três! Inês conseguiu dar três voltas aos pedais. Sorria de satisfação mas sem desviar os olhos da roda da frente.
               Mas eis que surge da cozinha o manhoso do Tareco passando a correr frente a Inês! Ai! Novamente catrapuz! Inês cambaleou e caiu ficando com a bicicleta em cima de si. Irada, olhou para o bichano, de rabo alçado, sobre o telhado da arrecadação.
               Mas Inês não desistiu. As palavras da Fada Verde da Primavera não lhe saíam da cabeça e, depois de muitas esfoladelas nos joelhos e muitas investidas contra o estendal, Inês aprendeu a andar de bicicleta. Sem rodinhas!
               Era grande a sua felicidade. Desejava mostrar a bicicleta ao Paulo, talvez fazer uma corrida com ele.
               Os amigos estavam todos no jardim quando lá chegou montada na sua linda bicicleta.
- Viva! – Gritou Paulo ao vê-la. – Que linda bike que tu tens! Queres fazer uma corrida connosco?
- Com certeza!
- Consegues aguentar-te sem cair?
- Sei muito bem andar de bicicleta. Tive uma boa professora…
- Quem te ensinou?
- A Fada Verde da Primavera. – Respondeu feliz enquanto olhava a Fada Verde da Primavera que lhe sorria entre as flores do jardim.


Um grande xi- coração


domingo, 13 de maio de 2012

O Papagaio Bem Ensinado


Era um papagaio muito bem ensinado. Tinha poiso à porta de uma mercearia. De uma vez que o merceeiro estava lá para dentro, um freguês, por pirraça, ensinou o papagaio a dizer: "Está tudo podre".
E o papagaio, de aí em diante, não disse outra coisa. O anúncio, lançado aos quatro ventos, afastava a clientela.
Mal chegava alguém ao balcão da mercearia, o papagaio avisava:
- Está tudo podre.
Ficava furioso o merceeiro:
- Este papagaio leva-me à ruína - dizia o merceeiro. - Tenho de dá-lo.
E assim fez. Deu-o a um barbeiro.
Por sinal, o tal malandrote, que convencera o papagaio a dizer "Está tudo podre", também frequentava a barbearia. À socapa, ensinou-o a dizer: "Corta-lhe a orelha".
O papagaio passou a repetir. Por tudo e por nada, assim que o cliente se sentava na cadeira, o papagaio pedia:
- Corta-lhe a orelha.
Isto enervava o barbeiro e enervada o barbeado.
- Tenho de ver-me livre deste animal - disse o barbeiro.
E atirou-o pela janela. Mas o papagaio, que não estava habituado à liberdade, voltou a poisar no parapeito.
Isto uma, duas, três vezes, até que o barbeiro, já exasperado com a teima do passaroco, foi buscar uma caçadeira e deu uns tiros para o ar, só para afugentá-lo, enquanto gritava:
- Rua! Rua!
O papagaio esvoaçou, a princípio atarantado, mas depressa ganhou altura e voou feliz. Passado muito tempo, foi ter a um armazém em ruínas.

Cansado da viagem, acolheu-se a um recanto protegido e adormeceu.
Ora o armazém era frequentado, à noite, por duas quadrilhas de contrabandistas e ladrões, que aí faziam as suas trocas e baldrocas.
Estavam os membros das duas quadrilhas a descarregar e a carregar fardos, quando o papagaio, acordado com o barulho, soltou o aviso, ainda trazido do sonho e das suas recordações:
- Está tudo podre.
- Quem é que disse que está tudo podre? - perguntou o chefe de um dos band
Nisto, ouviu-se uma voz a gritar:
- Corta-lhe a orelha.
Pior ainda. Armou-se uma zaragata entre os dois grupos, em que ninguém ficou de fora.
Então, o papagaio, assustado, lembrou-se dos tiros da caçadeira com que o último dono o afugentara.
Deu-lhe para reproduzi-los, enquanto imitava também a voz do barbeiro:
- Rua! Rua!
Os bandidos, assim que ouviram os disparos, saltaram de medo, supondo que era a polícia. Fugiram todos, rua fora, largando tudo.
O papagaio bem ensinado acertara, ao menos uma vez, no que dizia.


Texto de António Torrado


quinta-feira, 19 de abril de 2012


A Festa dos Cravos


As flores do Jardim dos Cravos acordaram muito felizes naquele dia. A alegria era tanta que cantaram toda a manhã. E, para se tornarem ainda mais bonitos, os cravos lavaram as suas pétalas brilhantes com as gotas da chuva que caíra durante a noite.
Todos falavam ao mesmo tempo, em grande alvoroço, de uns canteiros para outros. Era tal a confusão que não se percebia nada do que diziam.
Os cravos mais jovens olhavam para tudo aquilo muito admirados. Que estaria para acontecer? Quala causa de tanta felicidade? Decerto não era a vinda do jardineiro, pois ele só
viria regar o jardim no primeiro dia da semana… e ainda era sábado!
Que estranho!
Foi então que o Cravinho Curioso dirigindo-se ao Cravo Mais Velho do Canteiro do Lado, perguntou:
- Vizinho, qual o motivo de tanta agitação? Que está para acontecer?
- Sabes, meu filho, – respondeu o Cravo Mais Velho do Canteiro do Lado – vamos comemorar o dia de hoje.
- Vão comemorar o dia de hoje! E porquê? – Perguntou o Cravinho Meio Escondido Entre Todos os Outros.
- Porque hoje é dia 25 de Abril!
- 25 de Abril!? E depois? O que é que isso tem? - Responderam os cravinhos todos ao mesmo tempo.
- Porque há muitos anos, no dia 25 de Abril, as pessoas conquistaram a liberdade!
Cravinho Rebelde afirmou enfadado:
- Mas que grande acontecimento…! As pessoas conquistaram a liberdade! E porque é que temos de nos meter na vida das pessoas? Somos uns simples cravos! Não temos nada com essa liberdade, ora essa!
- Estás enganado meu filho. Nós, cravos, também participámos na conquista da liberdade das pessoas…
Os cravinhos estavam cada vez mais surpreendidos. Podia lá ser! Como é que os cravos podiam interferir na vida das pessoas? Decididamente, os cravos mais velhos daquele jardim estavam todos malucos!
- Eu sei que é difícil compreenderem… vou contar-lhes a história desde o princípio. Oiçam com atenção.
Os cravinhos ajeitaram-se ao lado uns dos outros para ouvirem melhor. Que maravilha! Uma história!
E o Cravo Mais Velho do Canteiro do Lado começou assim:
- Portugal, como todos vocês sabem, é um país muito bonito: é quase todo rodeado por mar e, por isso mesmo, possui maravilhosas praias de areia fina e doirada; o clima é ameno, o céu mantém-se azul durante quase todo o ano e o sol brilha com grande intensidade; tem campos verdejantes, serras e montes por onde correm rios que cantam, serpenteando entre as pedras. Mas, há muitos anos, apesar de toda a beleza de Portugal, as pessoas não eram felizes. Viviam muito, muito tristes, porque lhes faltava algo muito importante…
- O quê? Que lhes faltava? – Inquiriu o Cravinho Curioso.
Aposto que não tinham a tal liberdade. – Disse o Cravinho Rebelde – não podiam vir à rua e agora já podem…
- Também não podiam ir à praia…? – Murmurou o Cravinho MeioEscondido Entre Todos os Outros.
- Sim, podiam ir à praia e podiam ir à rua, mas a liberdade não é apenas isso… – continuou o Cravo Mais Velho do Canteiro do Lado – a liberdade que as pessoas queriam estava nas mãos dos Homens Maus.
- Homens Maus!!! – Gritaram os cravinhos surpreendidos. Até o Cravinho Meio Escondido Entre Todos os Outros tentou esconder-se ainda mais.
- Os Homens Maus eram os governantes de Portugal. Governantes que subiram ao poder sem pedirem a opinião de ninguém, isto é, sem ninguém votar neles. Naquele tempo, os Homens Maus controlavam o país.
Os cravinhos estavam cada vez mais admirados. Que história impressionante!
- Quando os Homens Maus subiram ao poder criaram leis que aterrorizavam toda a gente. Era grande a amargura das pessoas.
- Conta, conta! – Pediram os cravinhos, intrigados.
- Proibiram as crianças de brincarem umas com as outras. Na escola, os meninos iam para uma sala e as meninas iam para outra. E foram feitos altos muros a dividir o pátio da escola.
- O quê?! No recreio também não brincavam juntos?
- Não. Era proibido. E na escola tinham de usar roupa igual, todos usavam uma bata da mesma cor. E o pior de tudo acontecia quando os rapazes cresciam…
Os cravinhos estavam suspensos das palavras do Cravo Mais Velho do Canteiro do Lado.
- Quando cresciam, os governantes obrigavam os jovens a irem para a guerra, e a matarem as pessoas que viviam em países do outro lado do mar. Era uma guerra que eles não compreendiam. Muitos morreram e os que voltavam ao fim de dois ou três anos, voltavam doentes, alguns até, aleijados.
Os cravinhos ficaram pensativos ao ouvirem aquilo. Aquela história era, na verdade, aterradora.
- Mas não acaba aqui a maldade dos Homens Maus!... Só eram publicados os livros, as revistas e os jornais, depois de serem lidos pelos ajudantes deles. O mesmo se passava com os filmes, as musicas e as peças de teatro. Tudo quanto se relacionasse com a educação e que não fosse aprovado por eles era considerado proibido.
- Isso é que era bom! – Ripostou o Cravinho Rebelde – Se fosse comigo, eu só veria aquilo que gostasse! Ninguém me obrigaria a ver outra coisa!
- Eu – acrescentou a medo o Cravinho Meio Escondido Entre Todos os Outros – iria fazer queixa à polícia…
- Os Homens Maus pagariam uma multa… para aprenderem – disse o Cravinho Curioso – como aconteceu a semana passada com o senhor da sapataria, que estacionou o carro em cima do passeio, mesmo frente ao nosso jardim…
- Ninguém falava, ninguém se queixava. Aliás, até tinham medo de falar. – Continuou o Cravo Mais Velho do Canteiro do Lado.
-Tinham medo de falar! Que horror! Porquê?
- Porque naquele tempo, além dos polícias das multas, como o Cravinho Curioso referiu, também havia outros polícias, que andavam disfarçados, ninguém os conhecia. Eram os Vigilantes dos Homens Maus. Misturavam-se com as pessoas por todo o lado: nos cafés, nos cinemas, nos mercados, nas ruas…
- Porque é que andavam disfarçados? – Perguntou o Cravinho Curioso.
- Para ninguém saber que eram Vigilantes. E quando apanhavam alguém a dizer mal dos Homens Maus ou a ler alguma coisa proibida, levavam-no para a prisão e batiam-lhe até a pessoa só dizer aquilo que eles queriam. Muitas vezes as pessoas eram sujeitas a grandes torturas na prisão.
- Malvados! – Disse colérico o Cravinho Rebelde.
- Por tudo isto, as pessoas viviam amedrontadassem alegria de viver. – Continuou o Cravo MaisVelho do Canteiro do Lado – Temiam falar umas com as outras, sempre receosas de serem apanhadas pelos Vigilantes.
Cravinho Rebelde lembrou:
- Fariam melhor se fugissem…
- Impossível. Até nas fronteiras havia Vigilantes.
Os cravinhos ficaram pensativos. Aquilo deixava-os cheios de pena das crianças e adultos daquele tempo.
- Agora compreendo porque é que a liberdade não é só ir à praia e andar na rua… – sussurrou o Cravinho Meio Escondido Entre Todos os Outros.
- Mas ainda não contaste como é que os cravos ajudaram as pessoas a adquirir a liberdade. – Disse oCravinho Curioso.
- Aconteceu o seguinte: alguns soldados, revoltados com tudo o que se estava a passar, pensaram em tirar os governantes do poder. Organizaram tudo secretamente e no dia 25 de Abril de 1974 pegaram em armas e marcharam contra os Homens Maus. As pessoas olharam por trás dos vidros das janelas e pelas aberturas das portas para verem o que iria acontecer. Com os corações em alvoroço decidiram sair todos para a rua. E foi então que começaram a distribuir cravos vermelhos pelos soldados que os colocaram nos canos das espingardas.
Viva! – Gritou o Cravinho Rebelde – Fomos famosos!
- Todos juntos obrigaram os Homens Maus a fugirem do país. E durante aquele dia festejaram a liberdade conquistada de cravos vermelhos ao peito e bandeiras nas mãos; falaram alegremente sobre tudo e muitos choraram de alegria; sem receio, abriram as portas das prisões para os presos saírem e mandaram vir para junto das famílias os jovens que estavam na guerra; pelas ruas e ladeiras, pelos becos e pelos largos as vozes juntavam-se num só grito: “Viva a liberdade!” “Viva a liberdade!
Os cravinhos estavam emocionados. Sentiam-se vaidosos por saberem que os cravos tinham participado naquela aventura tão bonita.
- E sabem qual o nome que as pessoas dão à revolução de Abril?
- Qual? Qual? – Perguntaram os cravinhos, ansiosos.
- Revolução dos Cravos!
- Ena! Ena! Que maravilha! Uma revolução com o nosso nome!
- É por tudo isto que todos os anos, no dia 25 de Abril, as pessoas põem cravos ao peito e saem para a rua a festejar a liberdade que conquistaram. – Concluiu o Cravo Mais Velho do Canteiro do Lado - E tanto os pais como os professores contam às crianças o que aconteceu naquele dia maravilhoso da Revolução dos Cravos.
- Viva a liberdade! – Gritaram com alegria todos os cravinhos.
- Vou preparar-me para a festa! – Disse o Cravinho Rebelde.
- Eu também! Quero estar bonito, quando me vierem buscar! – Acrescentou o Cravinho Curioso.
- Posso ir com vocês…? – Perguntou o Cravinho Meio Escondido Entre Todos os Outros.


                                                                                  Eugénia Edviges

Um grande xi-coração