Na Rua do Pinheiro

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Férias 2013/ Alvor

Olá pequenada! Voltei de férias! E como vem sendo habitual vou contar-lhes como foram estas férias de 2013. que passei na linda vila de Alvor, no Algarve, pertinho, pertinho de Portimão. Vocês já sabem que para mim as férias são compostas de diversão, cultura  e descanso. Ora bem! Vamos Começar!

Comecei por visitar a Igreja de S. Pedro em Alvor.É uma capela conhecida como Morabito de S. Pedro. É uma construção quadrangular do período islâmico e que foi reconvertido ao culto católico. É imóvel de interesse público.

Visitei as ruínas do Castelo, ruínas, mas mesmo ruínas. 


Aproveitei  o facto da Companhia de Teatro do Zé Raposo estar em Portimão e fui ver a peça. Gostei!




Visitei a casa onde nasceu Manuel Teixeira Gomes. A foto da placa diz-vos quem foi ele. Também vi a casa onde morreu D. João II, mas, não tinha levado a máquina fotográfica e, por isso, não tirei foto.




Em Portimão visitei o Museu. Enquanto não abriram as portas fui ver a marina ( o barco branco é o meu)


e almocei num restaurante pertinho do Museu, por sinal baratinho, o que é raro encontrar-se no Algarve.

O Museu é muito bom. Está localizado na antiga fábrica de conservas de peixe Feu Hermanos. A exposição permanente intitula-se "Território e Identidade". Tive a sorte de, na altura, ter uma exposição de arte sacra muito valiosa a que deram o título "Creio". Muito boa! Ah, é verdade, se puderem lá ir a entrada é grátis aos sábados entre as 15 e as 19 horas!. Uma boa dica não é?




Outro ponto alto: a visita aos monumentos megalíticos de Alcalar, a 1 km de Alvor. Neste sítio existia uma aldeia pré-histórica (3.000 anos antes de Cristo!!!). Resta um conjunto de sepulturas e um forno de cal. A sepultura maior é a mamoa que fica ao centro (mamoa é um montículo que cobre a câmara e revestida por pedras) e pode-se aceder à cripta por um estreito corredor (eu não consegui entrar). Vale a pena esta viagem à pré-história. Está tudo muito explicadinho no Museu de Portimão.





Fui assistir ao concerto do José Cid  na Fatacil, Feira de Artesanato.

Ah,  mas também fui à praia! Só vos digo que vale a pena ficar na praia até à tardinha, porque só assim é que se tem esta panorâmica do sol

e da lua ao mesmo tempo. Vai o sol, vem a lua.

Agora, já vocês estão a comentar: "pois, com isto tudo não leste!" Enganam-se porque li muito bons livros. Foram eles:






E li um livro para a vossa idade. Sim, que eu também leio livros infanto-juvenis.

Pronto! Foram estas as minhas férias. Gostei de partilhar convosco. Boas férias para todos. Não se esqueçam de levar na bagagem...livros. Ok?

Um grande xi-coração!


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O Cheiro da Linguiça e outra (histórias tradicionais)

Nem que viva imensos anos nunca me irei esquecer das histórias que a minha avó me contava quando era pequenina. Uma histórias eram verdadeiras, outras nem por isso e outras ainda eram acrescentadas pela sabedoria inteligente dela. Há, pelo menos duas, que me contou, que já contei aos meus filhos e, creio que sim, terei oportunidade de contar aos meus netos. Espero que gostem.

Foi Tudo Pela Porta Fora, Meu Patrão


     Era uma vez um casal que cultivava uvas, mas uma das vinhas que possuía ficava  um pouco distante da casa onde morava. Essa vinha estava a precisar de ser cavada mas os seus afazeres eram tantos que não lhes restava tempo algum para aquela vinha. 
- Ai, homem por muito que nos custe temos de arranjar alguém que nos cave aquela vinha. - Dizia a mulher, de barriga proeminente e de mãos na cintura.
- Ó mulher estás maluca! Sabes lá quanto é pagar uma jorna*? Isso é muito dinheiro! 
     Eram muito sovinas*. Apesar de viverem bem, raramente davam esmola a algum pobre que lhes batesse à porta.
     Os dias passavam e a vinha continuava cada vez mais a necessitar de ser cavada. Até que o homem disse um dia à mulher, quando estavam a almoçar:
- Bem, lá terá que ser! Amanhã vou contratar alguém para me cavar a vinha.
     Pensaram então em contratar um negro que pela aldeia aparecera, vindo sem ninguém saber de onde.
(Não sei porque é que a minha avó meteu um negro mas conto tal como ela me contava)
- Com certeza que para paga  só  vai querer o almoço e se assim for fica-nos muito mais barato.
     A mulher sorriu ante a perspectiva de a vinha ser cavada sem gastarem um tostão.
     E assim foi. No primeiro dia o negro apresentou-se em casa dos patrões para levantar o farnel*. A mulher entregou-lhe o saco que continha o almoço para esse dia.
     O pobre coitado chegou à vinha e começou a cavar. 
- Quando chegar à cepa* torta descansarei para almoçar. - pensou ele olhando para o trabalho que tinha à sua frente.
     Cavou toda a manhã. Quando chegou à cepa torta, largou a enxada*, sentou-se e preparou-se para retirar o almoço do saco. Mas o que viu deixou-o sem voz. A mulher apenas lhe tinha mandado para comer um naco de pão muito bolorento e uma sardinha crua, cheia de sal. Recostou-se numa cepa, meteu o boné sobre os olhos e disse:
- Pão bolorento? Sardinha salgada? Deita-te preto e trabalha enxada!
     E dormiu toda a tarde.
     Quando ao fim do dia chegou a casa dos patrões, o homem perguntou-lhe:
- Então rapaz, chegaste até aonde?
- Não passei da cepa torta, meu patrão.
     O patrão admirou-se. Não passou da cepa torta? Estranho!
    E todos os dias era o mesmo: o negro chegava de manhã à cepa torta e, antes de começar a cavar, abria o saco, olhava para o almoço e dizia:
- Pão bolorento? Sardinha salgada? Deita-te preto e trabalha enxada!
     Deitava-se e dormia. E, em resposta à pergunta do patrão de como correra o trabalho nesse dia,  era sempre a mesma resposta que dava:
- Não passei da cepa torta, meu patrão.
- Oh, homem isso deve ser algum dito que os negros têm quando andam a trabalhar. Deve querer dizer que se fartou de cavar...

     Mas o homem não estava lá muito convencido e numa certa manhã seguiu o criado até à vinha. Escondeu-se atrás de uma árvore e, pasmado, ouviu o que o negro disse ao olhar para dentro do saco:
- Pão bolorento? sardinha salgada? Deita-te preto e trabalha enxada!
     Ao ver o criado deitar-se para dormir, correu para casa e dirigindo-se à mulher disse enervadíssimo:
- Ó mulher, temos de dar outro almoço ao negro! Ele não tem cavado nada e dorme todo o dia porque só lhe mandamos para o almoço pão bolorento e sardinha salgada..
     No dia seguinte, o criado lá partiu como de costume em direcção à vinha. Sentia que o saco do almoço estava mais pesado. 
     Quando chegou à cepa torta abriu o saco e ficou espantado com o que viu. O farnel era composto por pão alvo*, muito macio, uma garrafa de água e outra de vinho tinto, carne estufada com cenouras e cebolinhas, duas qualidades de fruta e até um prato de arroz-doce.
     Ao ver aquelas iguarias sentiu uma vontade enorme de trabalhar. Pegou na enxada e só parou para almoçar quando chegou ao fim da vinha.
     Nessa tarde, quando chegou a casa dos patrões, o homem perguntou-lhe novamente, temendo a resposta do criado:
- Então rapaz, chegaste até aonde?
      Ante a sua admiração, o criado respondeu-lhe:
- Foi tudo pela porta fora, meu patrão!

Passo a explicar-vos o significado de algumas palavras que, para vocês, devem ser desconhecidas:
jorna - era o pagamento para pequenos trabalhos no campo;
sovina -pessoa que é muito avarenta, não gosta de gastar dinheiro mesmo quando é necessário;
farnel - saco com a alimentação que as pessoas levavam quando iam trabalhar para o campo;
cepa - é o tronco da videira, que nos dá as uvas gostosas;
enxada - utensílio de aço e ferro e cabo em madeira que serve para cavar a terra;
pão alvo - pão feito com farinha de trigo

Segue a outra história que jamais esquecerei


O Cheiro da Linguiça

     Era uma vez um pobrezinho, muito velho e que estava completamente cego. Possuía apenas um pau para o ajudar a andar.Todo o dia pedia de porta em porta para assim poder comer alguma coisa. Fazia-se acompanhar por um rapaz que era órfão,  com apenas dez anos de idade. O rapaz era a sua ajuda. Era ele que orientava o velho pelas ruas para não cair, desviava-o dos quintais onde havia cães e era ele que todas as noites arranjava um local para dormirem.
     O que as pessoas davam era muito pouco, nem chegava para matar a fome. 
    Acontece que o velho era malandro e quando tinham a sorte de receberem alguma coisa de comida era para ele  sempre a maior parte, dando ao rapazinho apenas os restos. Muitas vezes o rapaz adormecia com a barriga a dar horas*.
      Certo dia bateram à porta de um lavrador, que ao ver aquele velhote, completamente cego, acompanhado por um rapazinho tão novo, teve pena e disse:
- Rapaz, vem cá dentro que eu dou-vos qualquer coisa para comerem.
      O rapaz seguiu o lavrador até à cozinha enquanto o velhote ficou à espera.
   Ficou contentíssimo com a oferta do lavrador: metade de um pão grande com uma linguiça assada! O rapaz estava feliz. Finalmente comeria alguma coisa que lhe enchesse a barriga. O pior era o velho...Decerto que lhe daria só um bocadinho...e aquele manjar era suficiente para os dois. Encheu-se de coragem e chegando perto do velho disse:
- O lavrador deu-nos um bom naco de pão. Tome lá. 
    E passou o pão para as mãos do velho, ficando ele com a linguiça  Sentaram-se à sombra de uma árvore a comer . O rapaz deliciava-se com a linguiça assada  Tentava não fazer muito barulho a mastigar  Por seu lado o velho, comia o pão mas, desconfiado, cheirava-o enquanto comia.

- Este pão cheira-me a linguiça...
- Não. É impressão sua. O lavrador só nos deu pão. 
    Mas o velho, fora de si, deitou as mãos ao rapaz agarrando-o por um dos braços.
- Com que então o lavrador deu-nos só pão, hem?!  Bem me cheirava o pão a linguiça,  seu malvado!Pois agora quem te dá a linguiça sou eu.
   Agarrando no cajado começou a bater com toda a força no rapaz. Este gritava com dores mas o velho não parava.
- Pronto! Pronto! Não me bata mais! Eu dou-lhe a linguiça.
     O velho comeu o resto da linguiça. 
   Continuaram a caminhar. O rapaz choramingava ao lado do velho. Doía-lhe o ombro onde o velho apoiava a mão. Até que chegaram a um sítio onde havia muitos sobreiros. O rapaz pensou em vingar-se e, encaminhando o velho para a frente de um sobreiro, disse:
- Salte que é uma valeta*!
    O velho, obedecendo ao que o rapaz dizia, saltou indo bater com a cabeça no sobreiro. Caiu no chão, desamparado, com um grande galo* na testa.
- Ah, malvado se eu te apanho, vais ver...- gritou o velho.
    Com uma gargalhada, o rapaz respondeu:
- Então cheira-lhe o pão a linguiça e não lhe cheira o sobreiro a cortiça?
    O velho ficou quieto a pensar nas palavras do rapaz. Na verdade, se não fosse ele, como seria a sua vida? Andaria sempre a bater com a cabeça em todo o lado.
- Tens razão, rapaz. A partir de agora tudo quanto recebermos será dividido, igualmente, pelos dois.



Vamos às palavras e termos desconhecidos:
Barriga a dar horas - termo calão utilizado quando estamos com fome.
valeta - pequena vala aberta no chão para escoamento das águas, junto dos caminhos.
galo - inchaço na testa ou na cabeça provocado por uma pancada


Eugénia Edviges

Um grande xi-coração