O
Pai Natal sentou-se no sofá da sua acolhedora sala. Estava cansado. A noite de
Natal aproximava-se e ele andara toda aquela semana a verificar se na fábrica
tudo corria bem. Não queria que faltasse nenhum presente para as crianças. Os
seus assistentes duendes tinham trabalhado noite e dia para que os presentes
estivessem acabados no dia vinte e quatro de Dezembro.
O
seu assistente – secretário, o duende Bikudo, entrou na sala e disse:
- Pai Natal, deveria vestir o seu
fato. Tenho receio que precise de uns remendos.
- O quê!? Remendos!? Um fato com
tão poucos anos!
- Acho só que está um pouco mais…velho.
- Sim, deve estar um pouco mais
velho mas ainda irá durar uns anitos, talvez até à minha reforma. Mas vai, vai
buscar o fato porque pode precisar de uma escovadela. E traz também as botas.
BiKudo
saiu. O Pai Natal ficou a pensar no assunto. Realmente, já tinha aquele fato há
uns anos. Está claro que se estraga por causa das chaminés. Pensando bem,
talvez esteja na altura de começar a entrar pelas janelas.
- Mas não – pensou ele – O fato
ainda está muito bom.
Bikudo
voltou com um carrinho de mão onde trazia o fato do Pai Natal, as botas e o
grande saco vermelho dos presentes. Colocou tudo em cima do sofá para que o Pai
Natal pudesse apreciar melhor.
Quando
o Pai Natal olhou para o que estava ali ao seu lado abriu os olhos de espanto.
O casaco perdera a cor
Por ter sido tão lavado
Não era vermelho vivo
Mas vermelho desmaiado
As calças estavam tão gastas
Tão cheias de remendinhos
Que nada havia a fazer
Para durar mais uns aninhos
Do gorro já nem se fala.
Tão velho que até doía
Por muito que lhe custasse
Só o lixo merecia
E deu por si a pensar
Olhando triste para o saco
Se o usasse, perderia
As prendas pelo buraco
As botas talvez durassem,
Com certeza, mais um ano
Se as solas estivessem boas
E não lhes faltasse um cano.
O
Pai Natal coçou as barbas, pensativo. Verdade, verdadinha, aquele fato já não
estava capaz de ser usado. Mas nem pensar em comprar outro.
- Bikudo, dá uma escovadela no fato
e põe um pouco de graxa nas botas. Ficarão como novos.
- Mas Pai Natal isso não está
certo. É uma vergonha! É uma pessoa tão conhecida e admirada por todos e vai usar
um fato e umas botas miseráveis?
- Para o ano que vem será outra
coisa. Despacha-te, porque faltam apenas dois dias para o Natal e eu não quero
atrasar-me. Temos de preparar tudo para que, nessa noite, todas as crianças
tenham os presentes que pediram nas suas cartas.
- Pois bem, Pai Natal! É esta a
minha resolução: Não escovarei o fato nem engraxarei as botas!
- Ho! Ho! Ho! O quê? Estás tu a
dizer?
Bikudo,
com os braços cruzados sobre o peito, de expressão decidida, continuou:
- Recuso-me a escovar e a engraxar
aquele fato e aquelas botas.
- Está bem. Vou pedir a um duende da
fábrica que me preste esse serviço. Chama-os para eu falar com eles. Ho! Ho!
Ho!
Bikudo foi à janela e chamou todos os duendes
pelos seus complicados nomes:
- Zirikasto! Alkavar! Ketrevusk!
Pataslek! Glugakir! Gatelek! Bujakar! Stufikur! Sikermate! Venham cá todos! O
Pai Natal quer falar convosco.
Passado
pouco tempo todos os duendes entravam na sala. Tinham estado a embrulhar os
presentes para depois os colocarem no trenó.
- Sentem-se – Pediu o Pai Natal – devem
estar cansados.
Alguns sentaram-se no chão frente ao Pai Natal
e outros empoleiraram-se nas costas do sofá. Bikudo ficou de pé, ansioso pela
resposta que os duendes dariam ao Pai Natal.
- Ora bem, meus queridos ajudantes!
Qual de vocês poderá fazer -me o favor de engraxar as botas e escovar o fato?
Os
duendes olharam uns para os outros, sorrindo de malícia. E responderam em coro.
Escovar aquele fato?
E as botas engraxar?
Por muito bem que se escovem
Melhores, não vão ficar.
Estão velhos e sem graça
Devia dar-lhes sumiço
É escusado pedir
Não queremos fazer isso.
E se insiste em levar
Esse fato que odiamos
Não embrulhamos os presentes
Nem o trenó, carregamos!
O
Pai Natal ficou apreensivo. Estava ali um grande problema… Paciência! Teria de
usar o fato e as botas tal e qual como estavam. Para o ano logo se veria. O
pior é que faltava ainda acabar os embrulhos e carregar o trenó. Compreendia
que os duendes estavam muito cansados de tanto trabalharem na fábrica e, por
isso, ele mesmo iria ultimar os preparativos.
- Está bem. Fiquem a descansar aqui
na sala que eu vou para a fábrica terminar o trabalho. Têm a melhor das
intenções mas também sei que estão a precisar de uma noite de descanso. Até
logo! Ho! Ho! Ho!
Levantou-se.
Dirigia-se para a saída quando à janela apareceu a rena Rodolfo, a rena do
nariz vermelho. Meteu a cabeça entre as portadas de madeira e disse:
- Estou aqui em nome de todas as
outras oito renas. Elas mandam dizer o seguinte:
Se for usar
esse fato
E as botas
cheias de pó
Pode crer
no que lhe digo:
Não
puxaremos o trenó.
As crianças
irão chorar
O Pai Natal
chorará também
E ficarão
os presentes
Fechados no
armazém.
- Agora é que a coisa está feia! – Pensou
o Pai Natal - Se as renas não puxarem o trenó e voarem pelos telhados, como é
que eu poderei chegar às chaminés?
- Oh, minha renazinha Rodolfo! Por
favor, pede às tuas amigas que não façam isso! Eu tenho de entregar os
presentes.
- Entrega-as, mas com um fato e
umas botas novas… - respondeu Rodolfo.
- Mas apenas faltam dois dias. Onde
arranjarei uma costureira e um sapateiro nesta altura do ano? E teria ainda de
comprar tecido e cabedal!
- Lembras-te do ano em que uns
meninos de uma escola pediram fatos iguais ao teu para fazerem uma peça de
teatro? Nós fizemos os fatos e as botas mas sobrou muito material que está no armazém.
– Explicou o duende Zirikasto.
A
rena Rodolfo, que continuava à janela, acrescentou:
- Os duendes serão os costureiros e
os sapateiros. Terás uma fatiota nova rapidamente.
- Mas vocês estão fartos de
trabalhar…
- Mais um dia ou dois não é nada para
nós… - disse o duende Gatelek.
O
Pai Natal já não sabia o que havia de argumentar. Os malandros dos duendes e da
rena tinham resposta para tudo.
- Está bem! – Disse o Pai Natal com
um encolher de ombros – Façam o que quiserem mas, por favor dia vinte e quatro
de Dezembro, ou seja, depois de amanhã, tem de estar tudo pronto para eu poder
entregar os presentes.
- Estará prontíssimo! - Exclamaram
os duendes em coro.
- Vamos começar por tirar as
medidas. – Disse o duende Bujakar tirando a fita métrica do cesto da costura.
Glugakir
e Pataslek foram buscar um banco que estava atrás da porta da sala e
colocaram-no perto do Pai Natal. Bujakar subiu para o banco segurando a fita
métrica.
Juntou
a ponta da fita ao ombro do Pai Natal e deixou-a cair sobre o peito.
- Vejam quanto mede a altura do
peito. – Pediu Bujakar para os duendes que estavam no chão.
E
continuaram, medindo a altura do braço e a largura das costas. Depois Bujakar
desceu do banco para medir a cintura e a altura das calças.
Sikermate
apontava todas as medidas no seu caderno de notas.
- Já está. – Afirmou Bujakar –
Agora, vamos para a fábrica tratar da execução do resto…
- Até amanhã Pai Natal! –
Despediram-se os duendes.
- Até amanhã Pai Natal –
Despediu-se a rena Rodolfo.
O
Pai Natal sentou-se no sofá muito preocupado. Se os duendes não conseguissem
acabar o fato a tempo ficaria muito triste. Pela primeira vez, as crianças não
teriam Natal com presentes.
- Não se preocupe Pai Natal – disse
o assistente-secretário Bikudo – os duendes trabalham bem e depressa. Dia vinte
e quatro terá o seu fato novo.
BiKudo
tinha razão. Na tarde do dia vinte e quatro os duendes apareceram, radiantes, à
porta da sala. Tinham conseguido fazer todo o trabalho, incluindo o
carregamento do trenó.
O
Pai Natal sorriu de contentamento ao apreciar o trabalho dos duendes: o
vermelho do fato, do gorro e do saco era lindíssimo; as orlas, feitas de lã,
pareciam orlas de neve; as botas, de cabedal preto, brilhavam intensamente. E
não faltava o cinto com uma grande fivela doirada e até umas luvas brancas a
condizer com as orlas!
- Pai Natal é melhor vestir-se. -
Lembrou Bikudo – Está a escurecer.
O
Pai Natal assim fez. O fato ficava-lhe muito bem.
- Está maravilhoso! – Exclamou, admirando-se
ao espelho - Vocês são, realmente, uns bons ajudantes! Que seria de mim se não
os tivesse comigo.
Uma lagrimazinha desceu pela face do Pai
Natal! Os duendes, ao verem aquilo, também se emocionaram.
- Bem…Bem… - sussurrou o
assistente-secretário, o duende BiKudo – não devemos atrasar o Pai Natal. Está
na hora de ele partir.
As
renas já estavam atreladas ao trenó prontas para seguir viagem. O Pai Natal
subiu para o assento e, agarrando nas rédeas, gritou feliz:
- Força! Voemos em direcção às
chaminés de todas as crianças.
Os
duendes ficaram a ver o Pai Natal seguir em direcção à noite escura. A luz da lua recortava a sua sombra e a sua voz ecoou na escuridão:
- Crianças, o Pai Natal vai chegar!
Ho! Ho! Ho! Ho!
Eugénia Edviges
Um alegre Natal para todas as crianças que visitam o meu blogue. AH! E não podia esquecer:
Um grande
XI-
