A
Gaita Milagrosa
Numa
aldeia perdida no meio das serranias vivia um homem que tinha uma gaita. Mas
não era uma gaita qualquer. Acontece que, quando o homem levava a gaita à boca
e fazia soar os acordes de uma música, as pessoas começavam a dançar no meio da
rua. Era uma alegria sempre que o tocador soltava sons da sua gaita. Todos
dançavam e andavam felizes.
Certo
dia, o tocador estava sentado à porta de sua casa. Na rua, passava um sujeito
com um burro carregado de loiça que andava a vender. O tocador começou a tocar
e logo o dono do burro e o próprio animal começaram a bailar. O vendedor
dançou, dançou e o animal também cabriolava com as patas traseiras. O pior é
que, com os saltos do burro, toda a loiça caiu no chão e partiu-se em mil
bocados.
- Pára! Pára! – Gritava o velho não
parando de dançar!
Mas
o tocador estava tão distraído a tocar a sua música que nem dava pelo que se
estava a passar.
( ilustração de Maria Keil)
- Pára! Pára! – Tornou o velho a
gritar, enquanto dançava acompanhado pelo burro.
Foi
então que o tocador reparou no que estava a acontecer e parou de tocar.
- O que tu fizeste! Malvado! Terás de
me pagar toda a loiça partida!
- Mas eu…só toquei…! Como posso ser
culpado de vossa excelência dançar mais o seu burro…? Além disso não tenho
dinheiro para pagar.
- Ah, sim!? Não pagas? Vais ver o que
te acontece.
E
agarrando o burro pelas rédeas desandou dali indo direitinho ao juiz fazer
queixa do tocador. Este foi chamado à sua presença.
Quando
o tocador chegou levando a gaita dentro do bolso das calças, o juiz disse-lhe:
- És acusado de ter partido toda a
loiça deste homem.
- Eu, senhor doutor juiz!? Eu não sou
culpado. Toquei a minha gaita e este senhor e o burro puseram-se a dançar… Não
fui eu.
- Se não tocasses essa maldita gaita eu
não dançaria nem o meu burro. A gaita é milagrosa, senhor doutor juiz –
respondeu o vendedor exasperado.
- Como é que uma gaita pode ser
milagrosa? – Perguntou o juiz, sorrindo.
- É verdade senhor doutor… -
acrescentou o velho – Pode crer naquilo que lhe digo. Este homem tem uma gaita
milagrosa… Foi por causa da sua gaita que toda a minha loiça caiu no chão e se
partiu em bocadinhos.
O
juiz pensou que o vendedor não estava bom da cabeça. Mas enfim! Tinha de encontrar
uma prova para resolver a questão.
- Pois bem! – Disse o juiz, voltando-se
para o tocador – Toca um pouco para eu ouvir.
O
gaiteiro tirou a gaita do bolso e levando-a aos lábios começou a tocar. Logo o
velho, que estava encostado a uma parece começou a dançar, rodopiando sobre si.
O juiz que se preparava para fumar um cigarro, levantou-se da secretária e
bailou muito animado.
A
mãe do juiz que há muitos anos estava entrevada numa cama, num quarto que dava
para o escritório, apareceu de braços ao alto e a bailar de contente. Estava
tão feliz que até cantava:
Vá de folia,
Vá de folia
Que há sete anos
Não me mexia.
O
escritório do juiz tornou-se num animado salão de baile.
Passados
alguns minutos, o juiz estava tão cansado, que pediu ao tocador para parar. O
homem obedeceu. Tanto o vendedor como o juiz e a mãe estavam cansados e suavam
com abundância.
- Podes ir-te embora. – Disse o juiz
para o tocador, limpando o suor da testa. – Não te posso culpar pois curaste a
minha mãe que há muitos anos não se podia mexer. Estás absolvido!
O
tocador saiu do escritório do juiz muito satisfeito e era tão grande a sua
alegria que foi para a praça da aldeia tocar. Toda a gente saiu das suas casas
e bailou até de madrugada.
O
velho vendedor é que não ficou muito satisfeito, mas resignou-se. Foi dali comprar
mais loiça para vender prometendo a si próprio nunca mais passar perto daquela
aldeia.
Eugénia Edviges
Um grande xi-coração
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