Naquela
noite Laura deitara-se pensativa. Achava que algo se apoderava dela. Estava
inquieta, sem razão.
Adormeceu
num instante.
Pela
madrugada sentiu-se leve como uma pena. Nos lábios desenhou-se-lhe um sorriso
de felicidade. Pela janela aberta entrou uma nuvem que se desvaneceu ao
aproximar-se de si, transformando-se no anjo mais belo que se possa imaginar.
As suas asas eram finas e macias, o cabelo doirado da cor do sol, de pele aveludada e o seu sorriso não tinha algo a que se comparasse.
Aproximou-se
de Laura e disse-lhe num sussurro acariciador:
- O teu desejo de há anos vai ser
concretizado!
Como por encanto, Laura sentiu-se leve como o vento e voava sobre planícies,
montes, rios e mares! Tudo olhava extasiada, feliz! Achava-se capaz de mover a
Terra, arrastar montanhas e nadar no fundo do oceano. Sentia-se rainha, Rainha
do Mundo, do Mundo que estava a seus pés!
Como
por encanto pousou no solo e à sua volta agrupavam-se os mais variados e
ressonantes ruídos: aqui, o chilreio de uma ave exótica que a maravilhava com o
seu cantar; ali, o estrondo de possante fera, que procurava, talvez, carne para
saciar a fome; além o rugido bravio, mas sempre de beleza ímpar, do mar, que
batia contra as rochas escarpadas da alta falésia. Laura ergueu a cabeça para o
alto e, em contraste com o azul do céu, o verde profundo das várias espécies de
árvores, cujos ramos balouçavam ao sabor da aragem fresca e húmida. Caminhou
devagar sobre a relva macia onde pululavam os mais variados insectos e pequenos
vermes diligentes. Extasiava-se e, os seus olhos, inquietos, perscrutavam tudo.
Estava só no Mundo – ela e a Natureza.
Sentou-se
numa pedra junto a uma palmeira e aí se encontrava em completo abandono, quando
ao seu lado surgiu o mais temível mas também o mais belo dos animais da selva –
o leão – que a olhava insistentemente. Do focinho pendia-lhe
fortíssima juba doirada. Caminhou para Laura que estendeu a mão e, sem
medo, acariciou o animal. O leão deitou-se ao seu lado e não mais a largou
durante a sua travessia naquele paraíso.
O
sol começara a aquecer. Junto à palmeira onde se encontrava Laura descobriu uma
jiboia de cores refulgentes que, enrolada, não dava sinal de vida. Tocou-lhe
levemente e, ante aquela carícia, ergueu a cabeça mostrando a sua pérfida
língua. Subiu a pedra onde Laura se encontrava e, dando uma volta ao seu pescoço,
foi enroscar-se ao seu lado.
Em
frente estendia-se um pântano coalhado de vida animal e vegetal. Os nenúfares
abrigavam rãs e sapos pesadões cujos coaxares retiniam pela superfície; flores
de beleza ímpar tinham nascido naquele lamaçal medonho e as cobras soltavam os
seus silvos agudos e desconcertantes.
Ao
longe um enorme vulcão estava prestes a vomitar lava incandescente. A terra tremeu,
o céu escureceu e aquela lavareda surgiu ameaçadora. Pela primeira vez Laura
contemplava o maravilhoso espectáculo que a Natureza lhe oferecia. A lava roçou
a falésia indo desaguar ao mar. Grandiosa batalha se travava entre os animais
na luta pela sobrevivência: o choro das hienas, a corrida de mastodontes, os
esguichos dos répteis, a vozearia dos pássaros e o barulho ensurdecedor do
vulcão. Pouco tempo depois tudo abrandou. Só ouvia de vez em quando os macacos
saltarem de ramo em ramo com os seus modos e vozes característicos.
Escureceu. A noite chegou e com ela as belezas nocturnas. A lua prateada espreitava lá do alto. As pradarias, os bosques e a praia mostraram toda a sua beleza cintilante. Os pumas, de olhos esbugalhados e brilhantes, sentaram-se ao seu lado e do leão. Sentia-se protegida e embalada pelas ondas do mar que lhe acariciavam os pés.
Escureceu. A noite chegou e com ela as belezas nocturnas. A lua prateada espreitava lá do alto. As pradarias, os bosques e a praia mostraram toda a sua beleza cintilante. Os pumas, de olhos esbugalhados e brilhantes, sentaram-se ao seu lado e do leão. Sentia-se protegida e embalada pelas ondas do mar que lhe acariciavam os pés.
Um
ruído enorme fê-la estremecer. Olhou o lençol prateado do mar e, ante o seu
olhar absorto emergiu da água uma fera sobrenatural. De cabeça pequena em
comparação com a grandeza do corpo e a boca crivada de dentes aguçados. A cauda
estendia-se a perder de vista e o dorso era alto como uma montanha. Estava em
frente de um dinossauro. O monstro olhou-a e Laura compreendeu que ele não lhe
faria mal. Subiu pela cauda do animal, que reentrou no mar levando Laura no seu
dorso. Em pouco tempo distinguia apenas
as sombras do mundo que deixara para trás. Nos seus cabelos desalinhados
espalhavam-se pétalas de anémonas da Era Cretácea. O mar envolvia-a. Olhava em
frente sobre a cabeça daquele monstro que a guiava sobre as ondas do mar.
Laura acordou ofegante.
Laura acordou ofegante.
- Mas…que se passa? Qual o ente maligno
que me deixou nesta cama, entre lençóis de linho, num quarto pintado de verde!?
Como
é cruel a desilusão…! Tudo não passara de um sonho…Será que foi um sonho? Laura
sorriu.
Preferia
pensar que tudo acontecera realmente.
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