Aquele cão era
novo na rua. Quem lhe daria autorização para entrar no seu território? Ele é o
Defensor, e como o próprio nome indica defenderá até à morte o que é seu.
Defensor olhou
mais atentamente através do vidro da janela. A noite aproximava-se e as
sombras, pouco a pouco, iam tornando-se maiores o que o obrigava a semicerrar
os olhos para poder distinguir melhor.
Decididamente havia
um novo cão na sua rua. Tinha de o afastar. E ladrou com toda a força para o
intruso que se encontrava à esquina sob a amoreira. Tanto ladrou que a dona,
pensando que ele precisava de fazer o seu xixi, abriu-lhe a porta da rua,
fazendo-lhe uma carícia na cabeça, que ele adorava.
Pé ante pé
encaminhou-se para a esquina. Queria apanhar o intruso de surpresa e assim, assustá-lo
de vez. Fixou o olhar na amoreira mas o local estava agora deserto.
- Teve medo de mim e fugiu. – Pensou ele. - O meu poder não tem
limites.
Continuou a andar
em direcção à esquina da rua. Caminhava com vaidade e contentamento.
Chegou finalmente
ao fim da rua. Olhou em redor e não viu nada nem ninguém.
- Recuperei o meu reino. Posso dormir descansado.
Mas eis que surge
de um quintal vizinho não um cão mas uma cadela lindíssima de pelo brilhante e
olhos azuis, pestanudos! Defensor tentou ladrar porque, apesar de tudo, aquela
beleza doirada não pertencia ao seu domínio. Mas o som do ladrar morreu-lhe na
garganta e ele ficou imóvel olhando aquela aparição que se aproximava,
elegantemente.
Estavam agora
frente a frente. Defensor sentiu o cheiro da intrometida e achou até que era um
cheiro agradável. Por seu lado, ela olhava-o enternecida e de olhos a
pestanejar. No alto da cabeça ostentava dois laçarotes da cor e da forma do
coração.
Defensor acabou
por conseguir dirigir-lhe a palavra:
- Sabes…esta rua é minha. Sou o rei e senhor…
- Sim!? É uma bonita rua…- respondeu ela aproximando-se cada vez mais
de Defensor- Eu acabei de chegar. Tenho uma nova dona.
A sua voz era doce
e calma. Defensor começou a sentir as pernas fraquejarem.
- Será que não podes incluir-me no teu domínio? – Continuou ela - …Se
não puderes, paciência. Não sairei do quintal para não me veres…
Defensor gaguejou:
- Pois…Sim…Não…Não! Nem pensar! Eu sou um bom anfitrião. Ficas
autorizada a sair para a rua sempre que queiras…para passearmos!
- Oh, que bom! – Respondeu a beleza com um risinho maravilhoso – És um
cão muito simpático. Desculpa, mas ainda não me apresentei. Sou a Lady. E tu,
como te chamas?
Aquele nome soou
aos ouvidos de Defensor como uma música angelical. Parecia até que o som se
repercutiu no seu peito.
- Eu sou o Defensor.
Sorriram os dois
um para o outro. Deitaram-se no chão, debaixo da amoreira, olhando a lua
brilhante que os espreitava envolta na escuridão do céu.
- A lua está linda… - murmurou Lady.
Defensor, de
coração enamorado, respondeu docemente:
- Pois está…
Eugénia Edviges
Um grande xi-coração
Sem comentários:
Enviar um comentário