Na Rua do Pinheiro

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Os Ovos da Dona Rita

Lenda dos ovos de Páscoa:
Conta a a lenda que uma mulher como era muito pobre coloriu alguns ovos de galinha e escondeu-os para dá-los aos seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram os ovos, um coelho passou correndo. Espalhou-se, então, a história de que o coelho é que havia trazido os ovos.
Com base nesta lenda eu escrevi a seguinte história para assinalar a Páscoa de 2011:
OS OVOS DA DONA RITA
A Dona Rita andava muito atarefada.
Os dias passavam depressa e temia não acabar a pintura dos ovos para dar aos filhos pela Páscoa.
Tivera esta ideia quando a galinha poedeira começou a pôr muitos ovos, mais do que o habitual. Como o dinheiro é sempre pouco e em dias festivos gosta de dar uma prenda aos filhos, achou a ideia extraordinária. Mas ao brincarem com os ovos, os filhos poderiam parti-los. Como fazer? Teria de arranjar uma solução.
Pensou muito a Dona Rita. Até que certa noite levantou a cabeça da almofada num repelão e disse alegremente:
- Que parva que eu sou! Está claro como água: cozerei os ovos.
Cheia de entusiasmo começou a pôr em prática o que tinha imaginado.
De manhã levantava-se, vestia a saia de roda, apertava o lenço às flores no alto da cabeça e calçava os tamancos de madeira. Saía de casa com o seu passo miudinho e rápido em direção ao galinheiro. Logo os cócórócócós e os cácárácácás se faziam ouvir. E aquele barulho não acabava enquanto a Dona Rita não atirasse para o chão os grãos de milho. As galinhas e o galo acorriam de asas abertas como se tratasse de uma prova de atletismo, seguidos de perto pelos filhotes, quais bolinhas de lã a deslizar pelo chão. Retirava os ovos debaixo da Marosca, nome que dera à galinha poedeira, enquanto exclamava:
- Mais uns ovinhos de Páscoa!
E lá voltava à cozinha onde já tinha ao lume um tacho com água a ferver para cozer os ovos.
À tarde, depois da Inês e do Rui irem para a escola, sentava-se à sombra da laranjeira, frente ao galinheiro e começava a pintura. Com pincéis de todos os tamanhos e tintas de várias cores, a Dona Rita conseguia dar muita beleza e colorido aos seus ovinhos de Páscoa.
No galinheiro, Marosca olhava admirada para o trabalho de Dona Rita e pensava:
- Os meus ovos são maravilhosos…. Valem mais que ovos de oiro.
E chamava a atenção do galo e das galinhas para a beleza dos seus ovos. Não lhe davam a importância que ela queria, continuando no seu cácárácácá e cócórócócó. Mas ela, embevecida, continuava a olhar a pintura da Dona Rita.
Na véspera do dia de Páscoa Dona Rita colocou todos os ovos pintados em cima da mesa da cozinha para ver se não haveria nada a retificar. Representavam tudo o que a há de belo no mundo: flores, estrelas, arco-íris, fadas e princesas, pássaros das mais variadas cores e espécies. Estavam lindos!
Devagar e com muito cuidado Dona Rita meteu os ovos um a um debaixo da hortense que havia à esquina da casa. A flor estava grande e cheia de flores lilases. Ela própria faria com que os filhos os encontrassem como se fosse por acaso.
Quando os filhos chegaram da escola naquele dia mandou-os ir regar a hortense.
- Está seca e eu ainda não tive tempo de a regar… - disse ela com um sorriso ao canto da boca.
As crianças encheram o regador de água e quando iam a voltar a esquina da casa estacaram admirados. De baixo da hortense surgiu um animal cinzento que ao ver os irmãos largou a fugir para o pinhal do outro lado da estrada.
- Era um coelho! – Gritou Inês, de olhos esbugalhados.
- Que estaria a fazer debaixo da hortense…? – Perguntou Rui, intrigado.
-Vamos ver…
Grande foi a sua admiração quando, ao espreitarem por entre as folhas da hortense, descobriram aqueles tesouros coloridos.
- Inês… olha, foi o coelho que trouxe!
- São…ovos! Tão bonitos!
- Vamos mostrar à mãe.
Entraram pela cozinha em grande algazarra.
- Mãe, olha o que um coelhinho nos trouxe – disse Inês mostrando à mãe os ovos que trazia nos bolsos do vestido.
Dona Rita exclamou:
- Um coelho!?
- Sim, mãe, um coelho. Foi ele que deixou estes ovos pintados debaixo da hortense – respondeu o Rui, enquanto colocava os ovos em cima da mesa.
E contaram à mãe o que tinha acontecido.
Dona Rita sorriu.
- Porque não? Porque não ser um coelho a trazer os ovos de Páscoa? – Pensou ela – As fantasias das crianças são um bálsamo para a vida.
A história do coelho e dos ovos de Páscoa depressa chegou às aldeias vizinhas.
E a quinta da Dona Rita nunca mais teve sossego. Acorria gente de todo o lado para ver os célebres ovos. As pessoas chegavam, olhavam extasiadas e logo queriam comprá-los.
- Não posso vendê-los. – Informava a Dona Rita – Estes são dos meus filhos. Foi o coelho que os trouxe.
- Onde está o coelho? – Perguntavam.
- Sabe-se lá. Chegou, deixou os ovos e abalou…
Quando a notícia chegou ao galinheiro, Marosca ficou furiosa:
- O quê? Andam para aí a dizer que foi um coelho que pôs os MEUS OVOS? Mas que aldrabice é essa?
- Marosca, não te enerves! – Disse o galo, vaidoso, do alto do poleiro – Só os parvos é que acreditam que os coelhos põem ovos.
- Cácárácácá, cacaracá! - Riram as galinhas - Coelhos a porem ovos! Só essa história nos faria rir. Ainda se fosse uma coelha.
E voltaram a rir com tanta vontade que iam caindo do poleiro.
Mas Marosca não se conformava. Os ovos eram dela e não de qualquer coelho…ou coelha. Eram dela e pronto!
Enquanto isso, Dona Rita magicava outra ideia.
- Seria muito bom se eu pintasse ovos para vender… A Inês precisa de uns sapatos e as calças do Rui estão a ficar muito velhas… Mas como vou dizer às crianças que os ovos foram pintados por mim e que o coelho junto à hortense foi apenas uma coincidência…?
Como as pessoas continuavam a querer comprar ovos, Dona Rita disse aos filhos:
- Sabem meus filhos, acho que tenho uma ideia genial para ganharmos mais algum dinheiro: porque não dedicar-me a cozer e a pintar os ovos da Marosca? Que acham?
Rui e Inês ficaram entusiasmados com a ideia.
- Ajudar-te-emos a pintar os ovos. Vai ser fixe! – Disseram alegremente.
- E os ovos que o coelho deixou servirão para atrair a clientela. – Exclamou a Dona Rita, feliz por afinal não ter necessidade de contar a verdade aos filhos.
Na manhã seguinte dirigiram-se apressadamente ao galinheiro para tirarem os ovos de baixo da Marosca. Mas, qual não é o seu espanto quando vêm que a galinha poedeira não pôs nem um só ovo. Que desilusão!
Marosca estava sentada no poleiro, enroscada, com o bico entre as penas. Mantinha-se imóvel, mesmo depois de Dona Rita ter atirado para o chão o milho amarelinho.
- Estará doente? – Perguntou o Rui.

- Não, acho que não… - respondeu a mãe – olha para nós de uma maneira… parece estar triste.
Todos os dias era a mesma coisa. Marosca continuava sem pôr nenhum ovo. Dona Rita e as crianças começaram a ficar preocupadas. Mas Dona Rita conhecia muito bem todos os seus animais e com o passar do tempo conseguiu perceber o que se passava com a galinha poedeira.
- Já sei. – Pensou a Dona Rita – Marosca está ofendida por dizermos que os ovos foram oferecidos por um coelho. É isso mesmo.
Dona Rita disse quando estavam no galinheiro:
- Rui, Inês, vamos fazer o seguinte: quando Marosca n os der ovos para podermos pintar iremos expô-los na janela da cozinha com a indicação de que são ovos da nossa galinha.
- Boa ideia mãe. – Respondeu Inês – Faremos publicidade à nossa galinha poedeira.
Ao ouvir aquilo Marosca envaideceu-se. Finalmente iria ser famosa. As galinhas e o galo olharam para ela como se já fosse uma estrela de cinema.
- Quando fores famosa não te esqueças de nós, dos teus amigos. – Pediu o galo.
- Com certeza! Vocês são os meus companheiros de galinheiro.
A partir daquele dia Marosca punha ovos todos os dias. E das mãos da Dona Rita e dos filhos saiam ovos de Páscoa cada vez mais bonitos. Alguns até representavam a galinha Marosca. As crianças andavam felizes com o seu trabalho.
À janela da cozinha colocaram os ovos já terminados com um letreiro que informava:


Vendem-se ovos de Páscoa

Pintados à mão

Ovos postos pela GALINHA MAROSCA


Os ovos vendiam-se muito bem. As pessoas vinham das aldeias à procura dos ovos de Páscoa para darem aos filhos. Ao lerem o letreiro todos queriam conhecer a galinha Marosca. Era um corrupio para o galinheiro. Marosca sentia-se tão vaidosa que até fazia poses quando as pessoas espreitavam para dentro do galinheiro e diziam:
- Que galinha tão bonita!
Pouco a pouco os primeiros ovos, que decoravam a prateleira da sala, assim como a história do coelho foram esquecidos.
- Estes ovos serão uma boa recordação para os meus filhos. – Pensou a Dona Rita com um sorriso.
Naquele domingo de Páscoa, nada faltou naquela casa. Houve bolos e pudim. E quando regressaram à escola, Inês usou os seus sapatos novos e o Pedro umas calças de boa fazenda que Dona Rita tinha comprado com a ajuda … da galinha Marosca!


                                                                             Eugénia Edviges

Um grande xi-coração colorido

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