A Cigarra e a Formiga
Como a cigarra o seu gosto
É levar a temporada
De Junho, Julho e Agosto
Numa cantiga pegada,
De Inverno também se come,
E então rapa frio e fome!
Um Inverno a infeliz
Chega-se à formiga e diz:
- Venho pedir-lhe um favor
De me emprestar mantimento,
Matar-me a necessidade;
Que em chegando a novidade,
Até faço um juramento,
Pago-lhe seja o que for.
Mas pergunta-lhe a formiga:
- Pois que fez durante o estio?
_ Eu, cantar ao desafio.
-Ah! Cantar? Pois, minha amiga,
Quem leva o estio a cantar
Leva o Inverno a dançar!
João de Deus - Campo de Flores
Poema Para Galileu
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Eu queria agradecer-te , Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileu!
- e jurava a pés juntos, e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa
ou que um seixo de praia?
António Gedeão - Poemas
Levava um Jarrinho
Levava um jarrinho
para ir buscar vinho
Levava um tostão
para comprar pão
e levava uma fita
para ir bonita.
Correu atrás
de mim um rapaz:
foi o jarro para o chão
Perdi o tostão,
rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho
Nem fosse buscar vinho
nem trouxesse a fita
para ir bonita
nem corresse atrás
de mim um rapaz
para ver o que eu fazia
nada disto acontecia.
Fernando Pessoa - Obras Completas
Viagem Espacial
O astronauta
é um pernalta
num salto fica
perto da lua.
Oh! quem me dera
ser assim alto,
num foguetão
em asa ou cápsula
entrar em órbita
descer na lua
voltar à noite
para a minha casa
dormir à noite
na minha cama!
O astronauta
é um pernalta
que voa e chama.
Maria Alberta Menéres - Conversas com Versos
E Se...
E se houvesse uma deusa escondida
naquela nuvem
que atravessa o céu puxada por um
dragão de prata?
Se de repente saltasse para o azul
uma mulher longa como uma
melodia de violino
e começasse a atirar para a terra
rosas desfolhadas?...
(Que pena a beleza do universo não
ser assim tão fácil
em vez desta complicação que
ninguém entende,
sem rosas nem deuses.)
José Gomes Ferreira -Poesia II
Um grande XI-
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