Na Rua do Pinheiro

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Peixe e o Gato - António Torrado

Um texto de António Torrado


Era uma vez um peixe.
Era uma vez um gato,
um gato gaiato com sonhos e cócegas
de gato macaco.
- Vem daí, ó peixe, brincar-me no prato!
Ó peixe de prata, de prata barata,
vem jogar comigo ao gato e ao rato!

O peixe dançava nos olhos do gato.
Por dentro do vidro, voava em recato...
"Há perigo? Que perigo?
Estou vivo e bem vivo
e bem protegido."
Bolinhas subiam em ondas de ornato...
E o gato, um safado, malhado do mato, dizia:
- Troquemos, peixinho, e já, sem demora,
eu vou para a redoma,
tu vens cá para fora.
É que ando cansado do ar que respiro,
suspiro por água. Nadando, sou foca,
sou pato a vapor, sou gato a motor...
Salta daí! Vamos! Troca!

O peixe descia, fugia, fugia...
Não ia em batota nem troca-baldroca.
- Ah, sim?! - lhe dizia o gato do mato.
- Tens boca e não falas?                                                        
Mas, diz, finalmente não vais no contrato?

O peixe de prata, de prata lavrada
nadava, nadava...

Então, mais sensato o gato-pingado
gritou para o buraco:
- Quebrou-se o contrato. Não brinco contigo.
Fica do teu lado que eu fico onde fico
e desde já te digo,
meu carapau calado,
que hás-de afogado
morrer, para castigo.

Lá foi o gato amuado
pregar para outro postigo,
enquanto o peixe de prata
nadava de largo em largo
no lago feito baía.
E cada escama lhe ria...

Um grande xi- coração

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