Na Rua do Pinheiro

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Menina Feia - História Tradicional

Antigamente, as pessoas aos serões contavam histórias, umas verdadeiras outras inventadas. Geralmente, essas histórias eram contadas ao redor da lareira, pois como as pessoas não tinham mais nada para se entreter era essa a maneira de passarem o tempo ao serão. Como também não sabiam ler nem escrever as histórias eram transmitidas dos avós para o netos, de geração em geração. Com o passar dos anos as histórias vão-se alterando, porque "quem conta um conto acrescenta sempre um ponto". Só no séc. XVI é que o françês Charles Perraut reuniu alguns contos tradicionais que ouvira e decide escrevê-los, como é o caso, por exemplo, de "A Bela Adormecida" e "O Gato das Botas". Na Alemanha foram os Irmãos Grimm (Jacob e Gulherme) que decidem também passar para o papel algumas histórias, como "O Capuchinho Vermelho" e "O Príncipe Sapo". Em Portugal foi Teófilo Braga quem reuniu inúmeras histórias tradicionais e as compilou no livro intitulado "Contos Tradicionais do Povo Português" (2 volumes). Adolfo Coelho no livro "Contos Populares Portugueses" também reuniu algumas ihstórias tradicionais.
A minha avó contava-me esta história tradicional quando eu era uma criança. Já fui espreitar os contos do Teófilo Braga e a história lá está só que, como devem calcular, de maneira diferente. Incluí a história no meu livrinho Histórias da Rua do Pinheiro (págs. 34, 35 e 36).
As bonitas ilustrações são do José Lima



Era uma vez uma velha que tinha três netas. Duas eram surdas que nem uma porta e a mais velha era tão feia, tão feia, tão feia, que até metia medo ao susto. A própria avó não a deixava sair à rua porque tinha receio de que as pessoas se assustassem com ela.
A velha pensava que a neta já tinha idade para se casar, mas quem quereria casar com uma rapariga horrorosa como ela?
Pensou, pensou e por fim teve uma ideia.
Todas as manhãs passava por aquela rua um príncipe montado no seu cavalo branco. Era o filho do rei e era muito jovem e bonito.
Naquela manhã, a velha estava à janela à espera de ver o príncipe dobrar a esquina montado no seu cavalo. Mal o viu, correu a buscar um alguidar com água, deitou-lhe perfume de um frasco para dentro e quando o príncipe passava mesmo frente à porta, deitou a água para o chão da rua, ao mesmo tempo que dizia:
- A minha neta é tão linda que até a água onde se lava cheira bem...
O príncipe ouviu aquilo e ficou com curiosidade de saber quem era aquela beldade. Já há muito tempo que procurava noiva e talvez a neta daquela velhota fosse digna de ser uma princesa.
Bateu à porta. A velha apareceu e ele pediu-lhe para ver a rapariga , ao que ela respondeu:
- Ai, meu príncipe é impossível ver agora a minha neta...A sua pele é tão delicada e sensível, que até a luz do dia lhe faz mal...Só poderá vê-la à noite.
O príncipe ficou encantado. A rapariga deveria ser de uma beleza extraordinária. Começava a ficar apaixonado.
Quando chegou a noite foi novamente a casa da velha.
- Ai, meu príncipe, a noite está tão fresca e húmida...que estragará a pela da minha querida neta...
Mas o príncipe não aguentava esperar mais e pediu-lhe:
- Protege a sua pele com um manto. Eu vou levá-la para o palácio e casarei com ela.
A velha assim fez. Vestiu à neta o vestido mais bonito que ela tinha e cobriu-lhe a cabeça com um véu.
Quando chegaram ao palácio o príncipe mandou-a destapar o rosto. Assustou-se quando olhou para ela. Nunca tinha visto rapariga tão feia como aquela! Ficou furioso por ter sido enganado. E disse-lhe, tapando os olhos com as mãos:
- Para castigo irás passar a noite na varanda do palácio, mas completamente despida. Toda a gente irá conhecer a tua fealdade.
E assim foi. O príncipe meteu a menina na varanda do palácio, despida. A noite estava gelada. Seria difícil resistir ao frio. A menina encostou-se a um canto da varanda e começou a chorar.
Já a noite ia avançada, quando começou a ouvir uma música lindíssima. Olhou para baixo, para a rua. Viu uma fada com a sua varinha de condão rodeada por lindas bailarinas, de cabelos loiros. Apesar de toda aquela música e bailado a fada parecia triste. Seguia devagarinho, de olhos postos no chão. Encostou-se a uma árvore e olhou para o palácio. Vendo a menina, feia e nua na varanda, não se pôde conter e soltou uma grande gargalhada. As bailarinas pararam a dança e vendo a causa da alegria da fada, aproximaram-se da varanda e perguntaram à rapariga o que é que lhe tinha acontecido para ela estar naquela situação.
Depois de contar a sua desgraça, a fada aproximou a varinha de condão do pé da menina e disse-lhe:
- Como recompensa de me teres feito rir ao fim de tantos anos, vou fadar-te: a partir deste momento serás a rapariga mais linda do reino e o príncipe casará contigo. Serão felizes para sempre!
No dia seguinte, o príncipe foi à varanda. Estava convencido que a menina tinha morrido. Mas qual não é o seu espanto ao deparar, não com a feia horrível que ali tinha deixado na noite anterior, mas sim com uma rapariga de beleza sem par, linda como as flores do jardim. Aquela seria a princesa da sua vida. Não era preciso de esperar mais. O casamento iria realizar-se imediatamente!
Passou-se algum tempo. Como tinha saudades da avó e das irmãs foi visitá-las. Quando as irmãs a viram, perguntaram admiradas:
- Ai, mana, que te fizeram?
E ela respondeu:
- Fadaram-me.
As irmãs, como eram surdas, disseram admiradas:
- O quê!? Esfolaram-te!?
- Não. Fadaram-me.
-Ah! Esfolaram-te...!
E foram a correr ao barbeiro mais próximo. Queriam que ele as esfolasse também.





Bendito e louvado está o conto acabado!
Vitória! Vitória! Acabou-se a história!


Um grande xi-coração

2 comentários:

  1. Sei que é um blogue de literatura infantil mas eu sou adulto e de vez em quando gosto de pesquisar. Está muito bom.

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